Assista no YouTube: Eric de Oxalá-Oficial

Thursday 23 December 2010

OXOGUIÃ- ORISÁ DO TEMPO FUTURO



O chamado “ciclo das águas”, ocasião em que alguns terreiros rememoram os ancestrais fundadores se encerra no décimo sexto dia com a celebração dos inhames. Neste dia, os passos lentos dos ancestrais são alternados por passos mais rápidos e o toque compassado dos atabaques cede lugar ao “toque de guerra”. É a festa do pilão. Sem sombra de dúvida, para os grupos que caminhavam sem parar, tal utensílio, significou uma verdadeira revolução tecnológica, semelhante a descoberta do fogo, da roda e do ferro. Agora se podiam conservar os alimentos através de farinhas transformadas posteriormente em papas. Tal celebração se desenvolve em torno de um ancestral sobre o qual não se fala muito nos terreiros, não se chama o nome e possui culto cercado de significações e mistérios: Oxoguiã, fundador do reino de Egigbô. Acredita-se que Oxoguiã seja a própria guerra. Ele representa as dificuldades e desafios que os primeiros grupos humanos enfrentaram para consolidar as civilizações. Se Oduduwa é o universo e Oxalufan, a criação, Oxoguiã é o principio universal que mantém as coisas vivas. Daí ele se confundir com a própria comida servida neste dia. Já tivemos a oportunidade de lembrar que a comida é fonte de axé, transmite vitalidade, calor e um quando o calor cessa, o corpo morre. De acordo com alguns mitos, Oxoguiã teria inventado a mão de pilão e garantido a sobrevivência e o esplendor do reino de Egigbô. Ainda hoje em tal região se comemora tal festa. Segundo algumas histórias, alimentados durante vários anos por tal raiz, homens e mulheres se fortaleceram e foram consolidando as civilizações. Este é pois um dos sentidos da “festa do inhame”ou “festa do pilão”, quando os terreiros de candomblé são invadidos por tempos míticos que se alternam num mesmo momento: a vida e a morte, a guerra e a paz, a fome e a abundância, as doenças e a saúde. Tudo acontece de forma muito rápida em torno de um pilão, protegido por um pano branco, o mesmo que representa a criação. Ao mesmo tempo em que a comida é servida, varas rituais, as mesmas utilizadas para evocar os antepassados e chamar a chuva, garantindo a fertilidade da terra, são distribuídas entre algumas pessoas que dão início a uma guerra ritual, batendo uma nas outras e nos presentes. Este ritual se reveste de tal significado que é proibido ficar parado. Ë preciso correr, dar voltas a fim de não afrontar tal orixá. Diz-se também que é um momento de “tirar as pragas”, e o povo africano bem sabe o que isso significa na sua vida. Assim sendo, há algumas pessoas que acreditam ser este também um ritual de purificação. Conceito que certamente alguns grupos africanos receberam do islamismo. Após esse ritual, a consolidação das primeiras civilizações está garantida, pode-se assim viver um novo momento, o tempo do “povo do azeite”, dos ancestrais filhos, representados por Exu, Ogun, Odé e Ossain, ancestrais que em alguns momentos confunde-se com o próprio Oxoguiã, pois ele está na fronteira da vida e da morte, do dia e da noite. Com Oxoguiã os elementos que compõem o universo não possuem definições rígidas. Ele nos ensina que não podemos olhar para trás, mas que é preciso seguir sempre em frente, pondo fim, assim na noção de passado. Em outras palavras, não há o que aconteceu, mas o futuro próximo eternizado em cada momento presente vivido em plenitude. Oxoguiã é o ancestral do coração, símbolo da inteligência africana. Conta um mito que para ele percorrer todos os cantos da terra, alternou a cor branca símbolo da criação pela azul, tornando-se invisível. O símbolo maior dessa festa é o ilhame amassado, comido também as pressas protegido pelo pano branco suspenso sobre nossas cabeças, para ganhar força, afinal a guerra não espera. Precisamos estar fortalecidos para vencê-la sempre. Comer tal iguaria fora desse pano se acredita provocar efeito contrário. Para um orixá sobre o qual não se fala muito, acreditamos que já dissemos o suficiente. Para concluir vamos fazer memória de alguns filhos e filhas desse ancestral presentes na cidade de Salvador. Iniciemos por Tia Massi, uma das sacerdotisas mais lembradas pelos terreiros de tradição ketu. Tia Massi era filha de Oxoguiã e liderou o Candomblé do Engenho Velho por muitos anos, falecendo com mais de cem anos. Ela foi a iniciadora de grandes lideranças religiosas como Mãe Tatá, atual Yalorixá da Casa Branca. Gostaríamos também de lembrar da Mameta de Nkice Xagui, que neste ano celebrou setenta anos de iniciação. É também de Oxoguiã, Mãe Carmem, filha consangüínea de Mãe Menininha do Gantois e atual Yalorixá. Por fim, há ainda Air José, descendente consangüíneo de Tio Bangboxé que a mais de quarenta anos lidera o Ilê Odô Ojê, popularmente conhecido como Pilão de Prata. A todos eles e ainda a aqueles que deixamos de mencionar o nosso respeito e admiração por encarnarem na sua vida a determinação e o desejo, como Oxoguiã, de ver continuada a obra de nossos fundadores, inaugurando um novo tempo, um tempo onde não se é permitido ficar parado, onde é possível manter relações com outros povos. Parar apenas para comer a massa de inhame pilada, ou fazer o mingau, a papa, a polenta, mesmo assim de olhos e corpos inteiros atentos, afinal o tempo não pára, o amanhã é um momento eternizado no hoje, na dúvida de compreender o provérbio é melhor optar por seu um guerreiro e ir a luta.
Publicado por Wilson Caetano de Souza Junior

Thursday 9 December 2010

RELIGIÃO DE RESISTÊNCIA

http://www.espacomulher.com.br/ema/ema_edicao91.html

Sacerdotes de Matrizes Africanas foram homenageados em São Paulo

Por iniciativa do José Cândido e do Portal do Candomblé aconteceu no dia 6 de agosto, o Ato Solene em homenagem aos sacerdotes de Matriz Afrobrasileira.

O evento aconteceu no auditório Franco Montoro na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, av. Pedro Alvarez Cabral, 201 – Parque do Ibirapuera.

Os sacerdotes de Matriz Afrobrasileira há muito vêm sendo relegados a um segundo plano em vários aspectos de nossa sociedade.

Fato inegável é seu importante papel social ao ajudar a amenizar as dores da sua comunidade através de ajuda espiritual e às vezes até financeira.

Autoridades presentes: Álvaro Batista Camilo - Comandante Geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo; Dr. Antonio Carlos Malheiros / Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo; Antônio Ferreira Pinto / Secretario de Estado de Segurança Pública; Edson Santos / Ministro da SEPPIR, Hédio Silva Júnior; José Eduardo Oliveira / Presidente do CNAB – Congresso Nacional Afro Brasileiro; Luis Flávio Borges D’Urso / Presidente da OAB-SP; Luiz Antônio Guimarães Marrey / Secretario de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo; Marco Antônio Zito Alvarenga / Presidente da Comissão Antidiscriminatória da OAB-SP; Antônio Ferreira Pinto / Secretario de Estado de Segurança Pública; Otunba Adenkule Aderonmu / Príncipe, Paulo Paim / Senador da República; Renato Simões / Movimento Nacional de Direitos Humanos; Roberto Tameilini Junior / Advogado; Sebastião Arcanjo; Sinvaldo José Firmo / advogado; Sikiru King Salami - Prof. KING; Ubiraci Dantas de Oliveira / Vice Presidente do CNAB; Vicente Cândido / Deputado Estadual; Vicente Paulo da Silva / Deputado Federal; Zulu Araújo / Presidente da Fundação Cultural Palmares.

Os Homenageados foram:

Sacerdotes Candomblé

1. Babalorisá Alaepeoni
2. Babalorisá Alabiy
3. Áwò Akanì Ífàtokunmbo Erin Epega
4. Babalorisá Celso de Osalá
5. Babalorisá Cesar d’Osun “Iyamife”
6. Babalorisá Erick de Osala
7. Babalorisá Eduardo de Logunede
8. Babalorisá Flávio de Osossi
9. Babalorisá Flávio de Iansã
10. Babalorisá Francisco d’ Osun
11. Babalorisá Gladston ti Inlé
12. Babalorisá Gilmar d’Ogun
13. Babalorisá Jamil Rachid
14. Babalorisá João Batista M de Souza de Aira
15. Babalorisá José Carlos de Ibualamo
16. Babalorisá Karlito de Oxumare
17. Babalorisá Kaobakessy
18. Babalorisá Kilombo de Omolu
19. Babalorisá Lilico d’Osun
20. Babalorisá Loagikaceny
21. Babalorisá Marcelo Fomo de Logunede
22. Babalorisá Nenen de Obàtálá
23. Babalorisá Obasoji
24. Babalorisá Ogun Dimoloko
25. Babalorisá Paulo de Ode “Odemutakeregi”
26. Babalorisá Pérsio de Sangó
27. Babalorisá Rodney de Osossi
28. Babalorisá Rozevaldo de Osumare
29. Babalorisá Sidnei de Sango
30. Babalorisá Tinho de Ode
31. Babalorisá Vadinho do Ogun
32. Babalorisá Valter Logun Ede
33. Hungbono Jeferson de Azansu
34. Tat’etu Alabure
35. Tata Alamussangi de Lembarenganga
36. Tata Gil de Malé
37. Tata Katuvanjesi
38. Tat’etu Koneji
39. Tat’etu Nzaziankembu
40. Ogan Rafael de Obaluaye

Mais informações: http://www.portaldocandomble.pro.br e em http://www.josecandido.com.br/noticias_exibir.php?noticia_id=256.

(Fonte: assessoria de imprensa gabinete deputado)

Monday 6 December 2010

OS TRÊS DOMINGOS DE OSALÁ


FOTO: ORISÁ AJAGUNÀ DE BABÁ ERICK DE OSALÁ EM FESTEJO NO ILÊ BABÁ OMI




    OXALÁ

(do livro História de um Terreiro Nagô - Deoscóredes Maximiliano dos Santos- Mestre DIDI - Max Limonad-Joruês Cia Editora)

O Ciclo de Oxalá, Pai de Todos os Orixás

Os Três Domingos de Oxalá

Primeiro Domingo

As festas começam da mesma maneira que as demais já descritas, com uma diferença: todos os filhos do terreiro são obrigados a vestir roupa branca e não podem comer absolutamente nada que contenha sal, sangue ou dendê.

No intervalo da festa destinada à troca de roupa dos orixás, os presentes são servidos de adié (galinha cozida somente com cebola e ori - limo da costa), ebô (milho branco cozido com água sem sal), com o acompanhamento de aluá.

Depois dos orixás terem trocado de roupa, a Iyalorixá dá a ordem para os Alabê tirarem o cântico apropriado à entrada de Oxalá, canto que serve também para os demais orixás, que já estão vestidos e esperam no barracão:

Agô lonã morê ua ni xê

Agô agô lonã

Aí entram três filhas manifestadas com o grande Oxalá, vestidas de alvo, trazendo em uma das mãos o opaxorô, um cajado prateado com muitos enfeites. Na cabeça usam o adê (coroa), um prateado e os outros dois de pano todo bordado, com contas brancas. Dançam ao som dos atabaques, agogôs e xequerés (cabaça revestida de contas) algumas cantigas:

Ô fururu ló ô rê ô

ô kenen en lejibô

Ilê ifá motiuá babá

Okêrêrê lejibô ô

Eru ya eru ya ô

Euá ô euá e xê

Quando se canta essa cantiga, o orixá Oxalufã - Oxalá velho - dança, curvado pelo peso de sua velhice.

Quando os Oxalá já dançaram bastante, a Iyalorixá tira a seguinte cantiga:

Babá uô ri uô

Mele rin ô

Babá uô ri uô

Os orixás se retiram do barracão, com várias filhas a ampará-los e segurar-lhes as vestes. Logo em seguida a Iyalorixá também se retira, dando por encerrada a festa e convidando a todos para assistir à festa do domingo próximo.

Segundo Domingo

Nesse dia Oxalá recebe, das mãos de todo terreiro, a oferenda de uma cabra, várias galinhas, patos e pombos brancos.

À tarde, depois de ser feito o Padê, o assento de Oxalá sai do Balué em cima de uma charola muito bonita, toda ornada por angélicas, carregada pela Iyalaxé, a Iyamorô e outras duas pessoas da seita. A charola é coberta com o alá, um pano grande, todo alvo, seguro por uma das mãos de cada um que ali se encontra acompanhando a procissão. Daí seguem em direção ao Cruzeiro, reverenciando a casa do Ibó. Em seguida, voltam para a Casa Grande, nome dado a uma casa branca muito comprida, onde alguns orixá, entre eles Iyá, orixá da nação Grunci, têm assentados os seus peji...

Chegando à casa, entram com o andor, recolhem o alá e depositam Oxalá no seu peji. Depois fazem o oriki(saudação) e os orixás começam a chegar, menos os Oxalá, que já vinham acompanhando a procissão.

Em seguida, levam os orixá para trocar de roupas. No intervalo, os visitantes são servidos das mesmas iguarias do primeiro domingo - adié, ebô e aluá.

Os orixá, já de roupas trocadas, chegam ao barracão e dançam as cantigas tiradas então pela Iyalorixá. Neste domingo, além de Oxalá, chegam outros, como Nanã, Iemanjá, Ogun. Dançam uma porção de cantigas, até mais ou menos 11 da noite, quando a Iyalorixá manda fazer a roda de costume. Uma das cantigas que ela tira agora é essa, que convida os orixá a entrarem no barracão e dançarem:

Durô dê uá loná

ê á um bó keuá jô

Durô dê uá loná

ê a un bó keuá jô.


Terceiro Domingo

(Ojó Odô ou Dia do Pilão) - Às três da tarde, começam os preparativos para o início das obrigações. As filhas da casa, em grande atividade, fazem o necessário para que, em uma hora, tudo esteja preparado na sala da casa de Oxalá, a Casa Grande. Na procissão do Pilão, as filhas trazem bancos, mesas, panelas, balaios, tudo forrado por panos brancos e enfeitadas com ojás e com um feixe de atori (varinhas). Reúnem-se então todas as filhas, e, depois, a mãe Iyalorixá tocando seu ajá, faz as reverências precisas e com um dos atori toca os ombros das filhas de Oxalá, até que elas são manifestadas, iniciando-se assim os festejos. Cada uma das filhas da casa vai apanhando um daqueles apetrechos, de acordo com sua posição e seu eledá(guia). Quando todos estão prontos, vão saindo em procissão para o barracão e arriam todos os objetos em ordem, fazendo uma bonita arrumação, como num peji.

Todo esse preceito é acompanhado por cânticos adequados, até que por fim os Oxalá começam a obrigação dos atori. Primeiro Oxalá se senta e a Iyalorixá lhe entrega uma das varas. Em seguida, entrega varinhas também às filhas mais velhas da casa. Tiram uma cantiga e as pessoas, que estão munidas das varinhas, vão dançando em frente a Oxalá, que, batendo com a sua própria, faz como se estivesse surrando seus filhos. Logo após, todos vão tocando com as varinhas uns nos outros, e depois em todos os presentes, ao som da seguinte cantiga:

Uá mi xorô

Uá xorô ni ilê

Tanun apê ô

Uá mi xorô

Uá xorô ni ilê Terminada essa obrigação, tiram outra cantiga, que inicia a divisão das comidas:

Ô fururu lo êre ô

Ô keienen lejibó

Ilê ifan motiuá babá

Aji bô relê mojubá ô

Oluá êruáô éuáô êuáêxê

euá ô euá exê babá

euá ô euá exê

Além das comidas de costume, é servido inhame pisado em forma de bola, que vem dentro de um pilão. Depois com um novo cântico, são retirados todos aqueles apetrechos do barracão:

Xên xên un bé lôkô

Xên xên xên xên

Nilê ô xên xên?

Os orixás começam então a dançar, como de costume. Oxalá, mais belo que nunca em suas roupas maravilhosas, dança com aquele jeito calmo todo seu, sempre apoiado em seu opaxorô.

Por volta das onze horas, faz-se a roda para dar término à festa, fechando assim todo o ciclo das obrigações de Oxalá.