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Friday 22 April 2011

SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO E O CANDOMBLÉ...

Foto- Sala de liturgia do Ilê Babá Omi , na sexta-feira santa.



O ritual da "cura" na sexta-feira da Paixão dentro da casa de Candomblé.




O Ritual da Cura ou Fechamento de Corpo praticado em muitos candomblés na Sexta Feira da Paixão, que é uma data que os católicos dedicam à memória da crucificação de Jesus Cristo, tem origem nas mais antigas práticas bantos de calundus (formações religiosas anteriores à formação do candomblé modelado pelo Ketu na Bahia).
Algumas tradições Jeje Mahi, formações de candomblés Nagô Vodum, e Jeje Nagô principalmente, absorveram, em sua formação, do elemento banto presente no Recôncavo Baiano, tal tradição, umas casas como as de Candomblé de Angola realizam na Sexta Feira da Paixão e outras tradições segmentadas e formações não propriamente no dia santificado dos católicos, mas em etapa anterior ao sacrifício do bicho de 4 patas do rito de iniciação.

A “cura” é uma denominação para a “cruza ou cruz”, sinal recebido dos mercadores e traficantes de escravos para marcá-lo e distinguí-lo dentro de um grande número de indivíduos, principalmente assim agiam os mercadores e traficantes espanhóis, portugueses e brasileiros (muitos referidos ao longo da História como sendo portugueses). Tal símbolo era marcado nos braços, peito, costas dos escravos de forma a marcá-lo com sendo já batizados e portanto que já haviam recebido o nome pelo qual deviam ser conhecidos doravante, só então depois eram conduzidos ao Brasil em navios negreiros. Tal flagelo atendia a grandes encomendas de escravos principalmente para o árduo trabalho da lavoura no Ciclo da Cana de Açúcar.

Em fongbè (Língua Fon) a cruz é denominada kluzú (pronunciando-se curuzú, que dá nome a uma localidade em Salvador, Bahia). Para o indivíduo banto de forma geral e principalmente no Brasil ficou entendida como “cura”. Também no Brasil muitos índios entenderam o símbolo da cruz como curuçá ou cruçá a partir dos Jesuítas, passando assim a denominá-la.

O segredo do Fechamento de Corpo no Ritual da Cura está no que lhe é passado depois da marcação do sinal e o que é rezado naquele momento, diferindo os ingredientes passados e ingeridos e as rezas de acordo com o candomblé.







Thursday 21 April 2011

É sempre bom o auto-questionamento...

Foto-Porrões dos orixás Oxun, Oxalá e Yemanjá-Ilê Babá Omi


Hoje, eu Pai Erick de Oguiã reproduzo aqui um artigo mui interessante...que certamente agrega valor ao iniciado no candomblé e que trata sobre o profanismo na nossa religião de Candomblé.




...Podemos afirmar que somos um Povo Profano?



Não é, e nem pode ser coincidência, que a mitologia Egípcia, Grega e Romana, cujos povos surgiram bem mais tarde que o povo Africano (e alguns até oriundo de lá), seus deuses, tenham muita verossimilhança com os elementais (deuses) africanos, a interligação é muito grande e muito forte, o deus da caça, da colheita, da chuva, do vinho, da fecundidade, do amor, da saúde...acaso seriam eles, povos atrasados, ignorantes, imaginativos? Povos que hoje são considerados a base da humanidade moderna. Muita semelhança também está presente, na criação do mundo, segundo textos bíblicos, com a dos africanos, do povo yorubano, o homem sendo feito do barro (na história yorubana é moldado por Ajálá, o orixá funfun moldador de Orí -cabeça -), moldado e recebido vida pelo sopro do Criador; a separação do paraíso com a terra pela ira de Deus, com a história da separação do Aiyé e o Orún.

O mercado, na região yorubá, tem a mesma função do Agora dos gregos ou o Forum dos romanos: um lugar de reunião, onde todo os acontecimentos da vida pública e privada são mostrados e comentados. Não há nascimento, casamento, enterro, festa organizada por grupos restritos ou numerosos,, iniciação ou cerimônia para os orixás, que não passem pelo mercado. No Brasil essa noção da "passagem ao mercado" continua presente e pode ser constatada quando os noviços no "dia do nome", são convidados a anunciá-lo claramente "para que todos ouçam seja na cidade e no mercado".

Alguns missionários primeiros, que lá chegaram, constataram estas coincidências, mas não as revelaram, ao contrário, foram usadas, as lendas, de forma negativa, difundindo a imagem de povo politeísta, profano, tentando impingir-lhes o novo Deus, como único e verdadeiro.

Consequencias, que acompanharam esses povos, quando da sua transferência ao Mundo novo por ocasião da escravidão, e desta feita, sofrendo com intensidade, toda carga repressiva pelo culto da sua religião, não sendo dado, vistas, e ouvidos, a toda sua história, origem, cultura e procedimentos.

Que de uma forma muito tímida, e, infinitamente pequena, perante sua grandeza e liberdade tolhida, hoje tentamos resgatar e lhes dar o seu devido valor. O que nada mais é que nosso dever e obrigação, e ainda assim, seus seguidores, nos dias de hoje, são discriminados, e, algumas pessoas, entre elas, "novos" pastores, despreparados ou de má fé, por algum interesse ou comando, se aproveitando de uma situação atual, que parte de uma mídia lhes permite; agem como aqueles primeiros missionários, usando de forma negativa, os hábitos e usos, do qual alguns são ainda primitivos (até mesmo pela sua inocência, manutenção dos costumes e tradições, e muito mais por um ato de fé), para se beneficiarem, a atraírem mais fiéis, ou, contribuintes? Contudo a história ainda não está terminada, e, o passado revela que as perseguições, com o tempo, nada valeram, ao contrário, revelaram o engano cometido e o castigo devido.

Babalorisá Erick T'Osalá e Fundação Palmares-Ministério da Cultura



Ilê Babá Omi do Babalorisá Erick T'Osalá e Fundação Palmares-Ministério da Cultura





Criada em 1988, a Fundação Cultural Palmares é uma instituição pública vinculada ao Ministério da Cultura que tem a finalidade de promover e preservar a cultura afro-brasileira. Preocupada com a igualdade racial e com a valorização das manifestações de matriz africana, a Palmares formula e implanta políticas públicas que potencializam a participação da população negra brasileira nos processos de desenvolvimento do País.




Fruto do movimento negro brasileiro, a Fundação Cultural Palmares foi o primeiro órgão federal criado para promover a preservação, a proteção e a disseminação da cultura negra. Em seu planejamento estratégico, a instituição reconhece como valores fundamentais:






COMPROMETIMENTO com o combate ao racismo, a promoção da igualdade, a valorização, difusão e preservação da cultura negra;
CIDADANIA no exercício dos direitos e garantias individuais e coletivas da população negra em suas manifestações culturais;
DIVERSIDADE, no reconhecimento e respeito às identidades culturais do povo brasileiro.




Tornar-se referência nacional e internacional na formulação e execução de políticas públicas da cultura negra é uma das principais metas da Palmares, que atua em três eixos fundamentais para promover a inclusão da população afro-brasileira no rol de diretos previsto pela Constituição: o social e o artístico, e o de gestão da informação. Para guiar as três linhas macro de trabalho, criadas três estruturas administrativas: O Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-brasileiro (DPA); O Departamento de Fomento e Promoção da Cultura Afro-brasileira (DEP); e o Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra (CNIRC).




PATRIMÔNIO MATERIAL E IMATERIAL. A Palmares é responsável pela preservação do patrimônio cultural material e imaterial afro-brasileiros. Mas, para compreender o que isso significa, é necessário entender o conceito de cada um.





Patrimônio material são os bens culturais físicos, que podem ser acessados ou visitados. Segundo sua natureza, podem classificados em quatro grandes grupos:





a) arqueológico, paisagístico e etnográfico;
b) histórico;
c) belas artes;
d) artes aplicadas.




Estes quatro grandes grupos estão divididos em bens imóveis (núcleos urbanos e sítios arqueológicos, por exemplo) e móveis (coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos).




O Ilê Alaketu Babá Omi, visitado pelo Conselho Curador da Fundação e recebido pelo Babalorixá Erick de Oxalá, hoje faz parte da relação de referência de casas de Candomblé de São Paulo, pelo contexto de arte e cultura que nele se suprime.




Dessa forma, como o próprio Pai Erick de Oxalá menciona, estamos conseguimos agregar à nossa religião já tão perseguida mas ao mesmo tempo sempre muito rica em vivência e exemplo humanizado pelas nossas divindades.






O ILÊ BABÁ OMI é uma casa de candomblé fundada em São Paulo, de nação Ketu, presidida pelo Babalorixá Erick,que além da função sacerdotal,é escritor e historiador além de graduado em Fisioterapia e agora conclui seu curso de doutorado.




Confira no Site http://www.palmares.gov.br/?p=4809


Thursday 24 March 2011

Oxó Wussi!


Foto: Porta de aposento de orisá do Ilê Babá Omi.



A cada ano, apos a colheita, o rei de Ijexá saudava a abundância de alimentos com uma festa, oferecendo a população inhame, milho e côco. O rei comemorava com sua família e seus súditos; só as feiticeiras não eram convidadas.
Furiosas com a desconsideração, enviaram a festa um pássaro gigante que pousou no teto do palácio, encobrindo-o e impedindo que a cerimônia fosse realizada.


O rei mandou chamar os melhores caçadores da cidade. O primeiro conhecido como òsótògún tinha vinte flechas. Ele lançou todas elas, mas nenhuma acertou o grande pássaro. Então o rei aborreceu-se, e mandou-o embora.
Um segundo caçador conhecido como òsótogí se apresentou, este com quarenta flechas; o fato repetiu-se e o rei mandou prendê-lo. Osótododá, o caçador de 50 flechas, também não foi feliz.


Bem próximo dali vivia òsótokansósó, um jovem que costumava caçar à noite, antes do sol nascer. Ele usava apenas uma flecha vermelha. O rei mandou chamá-lo para dar fim ao pássaro. Sabendo da punição imposta aos outros caçadores, a mãe de òsótokansósó, temendo pela vida do filho, consultou um babalaô que aconselhou que se fosse feita uma oferenda para as feiticeiras, assim ele teria sucesso.

A oferenda consistia em sacrificar uma galinha e na hora da entrega dizer três vezes: que o peito do pássaro receba esta oferenda! Nesse exato momento, òsótokansósó deveria atirar sua única flecha. E assim o fez, acertando o pássaro bem no peito. O povo então gritava: oxó wussi, (oxó é popular) passando a ser conhecido por oxóssi. O rei, agradecido pelo feito, deu ao caçador metade de sua riqueza e a cidade de ketu, "terra dos panos vermelhos", onde osóssi governou até sua morte, tornando-se depois um Orixá.


-No Ilê Babá Omi, o nome do orixá Oxosse é importantemente exaltado pelo Babalorixá Erick de Oxaguiã, em especial pela casa ser de tradição Ketu.



Sunday 20 March 2011

Museu de Benin pode ser visitado virtualmente...vale a pena.



Today a town in the Republic of Benin situated on the Gulf of Guinea, Abomey was once the capital of the ancient kingdom of Danhomè (Dahomey). It is about 65 miles from the coast. The Royal Palaces in the heart of the city are major material evidence of this civilisation.

The Abomey Historical Museum was created by the French colonial administration in 1943. With a surface of about 5 acres, it is situated on the palatial site and comprises the palaces of King Guézo and King Glèlè. The entire palatial site extends over approximately 108 acres and has been on UNESCO's World Heritage list since 1985. It is a culmination of history, living culture and tourism.

Extensive conservation work and the enhancement of buildings and collections have been carried out since 1992. The Italian Cooperation programme has been the most generous donator, financing the PREMA-Abomey programme for a total amount of 450.000 USD through its funds in trust at UNESCO. Other donators also contributed to the work : ICCROM's PREMA programme, UNESCO, the World Heritage Centre, the Getty Conservation Institute and Sweden.


http://www.epa-prema.net/abomeyGB/index.html


O Pão de Pai Ogùn...


Foto: Orixá Ogum rodando o tradicional balaio de pães feitos com inhame,em festa ritual do Candomblé , conduzido pelo babalorixá Erick T 'Oxalá.

Na tradição brasileira, junho é mês de festa, quentão, quadrilha e de comemorar os dias de padroeiros queridos: São João, São Pedro e Santo Antônio. Essas festas tão brasileiras têm uma origem remota. Antes do nascimento de Jesus Cristo, os povos pagãos do Hemisfério Norte celebravam o solstício de verão, o dia mais longo e a noite mais curta do ano, que lá acontece em junho e marca o início da estação quente. Com o avanço do Cristianismo, a Igreja preservou e incorporou essas tradições também como forma de conseguir mais popularidade.


No Brasil, elas ganharam cores e sabores influenciados pelos índios e negros escravos, responsáveis pela mão-de-obra nas cozinhas, através de quitutes de milho, amendoim e mandioca, tapioca, paçoca, pé-de-moleque, entre outros. O mesmo ocorreu com relação ao sincretismo religioso entre o Catolicismo e o Candomblé, que associou o Santo guerreiro católico, ao Orixá guerreiro africano.


O inhame de Ogun, representa o pão de Santo Antonio, o “pão-nosso de cada dia.” Para os sertanejos, elas têm um significado muito importante, reforçando o sentido de união da comunidade. É com esse sentido que o pão/inhame, constitui um elemento inseparável de toda a devoção a Santo Antônio e a Ogun, independente de sua origem. Ele até se chama "Pão de Santo Antônio" ou "Pão de Ogun". Essa história remonta um fato curioso: Antônio comovia-se tanto com a pobreza que, certa vez, distribuiu aos pobres todo o pão do convento em que vivia. O frade padeiro ficou em apuros, quando, na hora da refeição, percebeu que os frades não tinham o que comer: os pães tinham sido roubados. Atônito, foi contar ao santo (Antonio) o ocorrido. Este insistiu que o padeiro verificasse melhor o lugar em que os tinha deixado. Logo ele voltou estupefato e alegre dizendo que os cestos transbordavam de pão, tanto que foram distribuídos aos frades e aos pobres do convento!


Até hoje na devoção popular, o "pãozinho de Santo Antônio" é colocado, pelos fiéis nos sacos de farinha, latas de mantimento ou dentro dos armários onde se guarda comidas, com a fé de que, assim, nunca lhes faltará o que comer. O mesmo ocorre com os pães distribuídos nas festas do Orixá guerreiro. Ogunhê!!!

Thursday 3 March 2011

Tem Xangô que não come quiabo...




Existe uma qualidade de Xangô, chamada Baru, que não pode comer quiabo. Ele era muito brigão. Só vivia em atrito com os outros. Ele é que era o valente. Quem resolvia tudo era ele . Xangô Baru era muito destemido, mas, quando ele comia quiabo, que ele gostava muito, lhe dava muita sonolência. Dormia o tempo todo! E pôr isso perdeu muitas contendas, pois quando ele acordava, já tudo tinha acabado.


Então, resolveu consultar um oluô, que lhe disse:


- Se é assim, deixa de comer quiabo.


- Eu deixar de comer o que eu mais gosto? – respondeu Xangô Baru.


- Então, fique por sua conta. Não me incomode mais! Será que a gula vai vencê- lo? - perguntou o oluô. Xangô baru foi para casa e pensou :


- Eu não vou me deixar vencer pela boca. Vou voltar lá e perguntar a ele o que faço, pois o quiabo é meu prato predileto.


E saiu no caminho da casa do oluô, que já sabia que ele voltaria. Lá chegando, disse:


- Aqui estou. Me diz o que eu vou comer no lugar do quiabo.


- Aqui neste mocó tem o que você tem que comer. São estas folhas. Você temperando como quiabo, mata sua fome – lhe mostrou o oluô.


- Folha?! – perguntou Xangô Baru.


- Sim – respondeu o oluô – Tem duas qualidades, uma se chama oyó e a outra, sanã. São tão boas e gostosas quanto o quiabo.


Xangô Baru foi para casa e preparou o refogado, e fez um angu de farinha e comeu. Gostou tanto, e se sentiu tão bem e tão fortalecido, e não teve mais aquele sono profundo. Aliás, ele se sentiu bem mais jovem e com mais força. E não ficou com a sonolência que o quiabo lhe dava. Aí ele disse:


- A partir de hoje, eu não como mais quiabo.


Daí a sua quizila com o mesmo. "Todo caso é um caso. "Esse caso me foi contado pelas minhas mais velhas; assim, agora quem quiser dar quiabo a Baru, que dê!


Bibliografia.
Livro: Caroço de Dendê.

Autora: Mãe Beata de Yemonjá.

Editora: Pallas.

Editado em 1997

Foto: Sangò conduzido por Pai Erick de Osalá no Ilê Babá Omi, em ritual de Amalá.

Lenda de Esú por Verger.

Foto: Orixá Exú e Babá Erick T'Osalá em dança ritual no Ilê Babá Omi


... Esú instaura o conflito entre Iemanjá, Oiá e Oxum


Um dia, foram juntas ao mercado Oiá e Oxum, esposas de Xangô, e Iemanjá, esposa de Ogum. Exu entrou no mercado conduzindo uma cabra. Ele viu que tudo estava em paz e decidiu plantar uma discórdia. Aproximou-se de Iemanjá, Oya e Oxum e disse que tinha um compromisso importante com Orunmila.


Ele deixaria a cidade e pediu a elas que vendessem sua cabra por vinte búzios. Propôs que ficassem com a metade do lucro obtido. Iemanjá, Oiá e Oxum concordaram e Exu partiu.


A cabra foi vendida por vinte búzios. Iemanjá, Oiá e Oxum puseram os dez búzios de Exu a parte e começaram a dividir os dez búzios que lhe cabiam. Iemanjá contou os búzios. Haviam três búzios para cada uma delas, mas sobraria um. Não era possível dividir os dez em três partes iguais. Da mesma forma Oiá e Oxum tentaram e não conseguiram dividir os búzios por igual. Aí as três começaram a discutir sobre quem ficaria com a maior parte.


Iemanjá disse: “É costume que os mais velhos fiquem com a maior porção. Portanto, eu pegarei um búzio a mais”.


Oxum rejeitou a proposta de Iemanjá, afirmando que o costume era que os mais novos ficassem com a maior porção, que por isso lhe cabia.


Oyá intercedeu, dizendo que , em caso de contenda semelhante, a maior parte caberia à do meio.


As três não conseguiam resolver a discussão. Então elas chamaram um homem do mercado para dividir os búzios eqüitativamente entre elas. Ele pegou os búzios e colocou em três montes iguais. E sugeriu que o décimo búzio fosse dado a mais velha. Mas Oiá e Oxum, que eram a segunda mais velha e a mais nova, rejeitaram o conselho. Elas se recusaram a dar a Iemanjá a maior parte.


Pediram a outra pessoa q eu dividisse eqüitativamente os búzios. Ele os contou, mas não pôde dividi-los por igual. Propôs que a parte maior fosse dado à mais nova. Iemanjá e Oiá.


Ainda um outro homem foi solicitado a fazer a divisão. Ele contou os búzios, fez três montes de três e pôs o búzio a mais de lado. Ele afirmou que, neste caso, o búzio extra deveria ser dado àquela que não é nem a mais velha, nem a mais nova. O búzio devia ser dado a Oiá. Mas Iemanjá e Oxum rejeitaram seu conselho. Elas se recusaram a dar o búzio extra a Oiá. Não havia meio de resolver a divisão.


Exu voltou ao mercado para ver como estava a discussão. Ele disse: “Onde está minha parte?”.


Elas deram a ele dez búzios e pediram para dividir os dez búzios delas de modo eqüitativo. Exu deu três a Iemanjá, três a Oiá e tre a Oxum. O décimo búzio ele segurou. Colocou-o num buraco no chão e cobriu com terra. Exu disse que o búzio extra era para os antepassados, conforme o costume que se seguia no Orun.


Toda vez que alguém recebe algo de bom, deve-se lembrar dos antepassados. Dá-se uma parte das colheitas, dos banquetes e dos sacrifícios aos Orixás, aos antepassados. Assim também com o dinheiro. Este é o jeito como é feito no Céu. Assim também na terra deve ser.


Quando qualquer coisa vem para alguém, deve-se dividi-la com os antepassados. “Lembrai que não deve haver disputa pelos búzios.”


Iemanjá, Oiá e oxum reconheceram que Exu estava certo. E concordaram em aceitar três búzios cada.

Todos os que souberam do ocorrido no mercado de Oió passaram a ser mais cuidadosos com relação aos antepassados, a eles destinando sempre uma parte importante do que ganham com os frutos do trabalho e com os presentes da fortuna.

Tuesday 1 March 2011

A figura da Ekede na casa de candomblé.



Ajoiê ou Ekede são nomes dados de acordo com a nação do candomblé, é um cargo feminino de grande valor, escolhida e confirmada pelo Orixá da casa de candomblé (não entram em transe). Na Casa Branca do Engenho Velho, as ajoiés são chamadas de ekedis. No Terreiro do Gantois, de "Iyárobá" e nos terreiros de Angola do candomblé Bantu, é chamada de "makota de angúzo", "ekedi" é nome de origem Jeje, que se popularizou e é conhecido em todas as casas de Candomblé do Brasil.


Dentre os cargos femininos na hierarquia do candomblé no Brasil, o mais conhecido é da Ekedi, como os ogans, elas não são possuídas por seu orixá de cabeça, ou seja não entram em transe, pois necessitam estar acordadas para atender as necessidades dos Orixás, Voduns ou Inkices para os quais foram devidamente preparadas para servir.


A ekedi na maioria das casas também é chamada de mãe, exerce a função de dama de honra do Orixá regente da casa. É dela a função de zelar, acompanhar, dançar, cuidar das roupas e apetrechos do Orixá da casa, além dos demais Orixás, dos filhos e até mesmo dos visitantes. É uma espécie de “camareira” que actua sempre ao lado do Orixá e que também cuida dos objectos pessoais do babalorixá ou iyalorixá. O cargo de ekedi é muito importante, pois será ela a condutora dos Orixás incorporados no Egbê (barracão ou sala de festividades) e dela é a responsabilidade de recolhê-los e “desvirá-los”, observando as condições físicas daqueles que “desviraram”. Para se tornar uma ekedi, ela primeiramente é apresentada e não suspensa como o Ogan, e logo depois será confirmada, com as obrigações de Roncó.


Traje ritual.


Existe muita diferença de uma casa para outra e mesmo de uma nação para outra, na forma de se vestir. Na Casa Branca do Engenho Velho a ajoiê não usa roupa de baiana e nem dança na roda do xirê, o traje tradicional da ajoiê é um vestido discreto, um fio-de-contas e um pano da costa dobrado sobre um ombro ou na cintura. Sempre tem uma toalha ou tecido à mão para secar o rosto do filho-de-santo que está em transe, no dia a dia usa uma roupa de ração como todas as participantes do candomblé.


Já em outras casas, vai depender do babalorixá ou iyalorixá deliberar o uso da roupa de baiana pelas ekedis. Em muitos candomblés de Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo é muito comum encontrar ekedis vestidas de baiana e dançando na roda do xirê.



Na foto: Babalorisá Erick T'Osalá e sua Ekede Maria do Carmo de Yemonjá, iniciada no Ilê Babá Omi. Ocupa o posto de Yá Ojú Ilê.

Thursday 24 February 2011

OS NOMES DE DEUS NO CANDOMBLÉ.

Foto tirada pelo Babalorixá Erick T'Osalá.
-Escultura Central da sala de festejo público do
Ile Babá Omi,representando Oxaguiã Ajagunã.


OLORUN, OLODUMARE, OLOFIN – OS NOMES DE DEUS.


Segundo a filosofia religiosa africana, O Criador encontra-se em plano tão superior em relação aos seres humanos e, é de tal forma inexplicável e incompreensível, que inútil seria manter-se um culto específico em sua honra e louvor, já que o Absoluto não pode ser alcançado pelo ser humano em decorrência de suas limitações e imperfeições.


Olorun é o nome mais comumente usado para designar a Divindade Suprema, e esta preferência de uso está ligada à sua aceitação por parte dos islamitas e dos cristãos, que adotaram-no como sinônimo, tanto de Alá, quanto de Jeová.


O termo é fácil de ser analisado e traduzido, uma vez que se compõe de duas palavras apenas: “Ol” de Oni (dono, senhor, chefe) e “Orun” (céu, mundo onde habitam os espíritos mais elevados), formando “Olorun” – Chefe, Proprietário ou Senhor do Céu.


O termo “Olodumare” propõe uma idéia mais completa e de maior significado filosófico. Desmembrando a palavra, encontramos os seguintes componentes: “Ol”, “Odú” e “Mare”, que passamos a analisar separadamente.


O prefixo “Ol” resulta da substituição, pelo “l” das letras “n” e “i” da palavra “Oni” (dono, senhor, chefe), prefixo utilizado, modificado, ou em sua forma original, para designar o domínio de alguém sobre alguma coisa (propriedade, profissão, força, aptidão, etc.). Ex.: “Olokun” – Senhor dos Oceanos.


O termo intermediário “Odu”, possui diversos significados, dependendo das diferentes entonações na sua pronúncia, que no caso é “ôdu” e que reunido ao prefixo “ol”, resulta em “Olodu”, cujo significado é: “Aquele que possui o cetro ou a autoridade“, ou ainda: “Aquele que é portador de excelentes atributos, que é superior em pureza, grandeza, tamanho e qualidade”.


A última palavra componente “mare” é, por sua vez, o resultado do acoplamento de dois termos “ma” e “re”, imperativo que significa: “não prossiga”, “não vá“. A advertência contida no termo, faz referência à incapacidade do ser humano, inerente à sua própria limitação, de decifrar o supremo e sagrado mistério que envolve a existência da Divindade.


Olofin é também uma das designações da Divindade suprema. Quando em extrema aflição, os nagôs costumam solicitar o auxílio divino, invocando os três nomes: Olorun! Olofin!

Wednesday 23 February 2011

A COZINHA NO CANDOMBLÉ,A COZINHA NO ILÊ BABÁ OMI...


O primeiro negro pisou no Brasil com a armada de Martin Afonso. Negros e mulatos (da Guiné e do Cabo Verde) chegaram aqui em 1549, com o Governador Tomé de Souza, que comia mal e era preconceituoso: entre outras coisas, não admitia sopa de cabeça de peixe, em honra a São João Batista.

Bem que o Padre Nóbrega tentou convencê-lo de que era bobagem, mas Tomé de Souza resistiu, até que o jesuíta mandou deitar a rede ao mar e ela veio só cabeça de peixe, bem fresca e o homem deixou a mania, entrou na sopa.


Da guiné vieram, principalmente, fulas e mandingas, islamitas e gente de bem comer. Os fulas eram de cor opaca, o que resultou no termo “negro fulo” (entrando depois na língua a expressão “fulo de raiva”, para indicar a palidez até do branco). Os mandingas também entraram na língua como novo sinônimo para encantamentos e artes mágicas. Mas os iorubanos ou nagôs, os jejes, os tapas e os haussás, todos sudaneses islamitas e da costa oeste também, fizeram mais pela nossa cozinha porque eram mais aceitos como domésticos do que a gente do sul, o povo de Angola, a maioria de língua banto, ou do que os negros cambindas do Congo, ou os minas, ou os do Moçambique, gente mais forte, mais submissa e mais aproveitada para o serviço pesado.


O africano contribuiu com a difusão do inhame, da cana de açúcar e do dendezeiro, do qual se faz o azeite-de-dendê. O leite de coco, de origem polinésia, foi trazido pelos negros, assim como a pimenta malagueta e a galinha de Angola.


Dentro do universo do Candomblé, a cozinha merece uma atenção especial, por ser um dos espaços onde se passa e se constitui o sagrado. Tudo nela remete a esta dimensão. Assim, “A cozinha de santo” aparece sempre como algo distinto, separado da cozinha do dia a dia. Separada na sua grande maioria, não por limites externos, mas internos que são representados por mudanças de atitude, ações, formas de uso, etc.
Em muitos terreiros de Candomblé, o local onde são preparadas as comidas dos Orixás é o mesmo onde são feitas as comidas do dia a dia. Esta separação, todavia é realizada de forma bastante visível e determinada. Muitas vezes se reserva para as comidas de santo um fogão especial que pode ser de lenha ou industrial, enquanto a outra permanece num fogão menor. Comum é se trocar de horários. É muito difícil se mexer com as panelas dos Orixás ao lado de outras panelas, bem como misturar os utensílios destas duas cozinhas.
“ Cozinha do santo” é, assim, mais que um lugar determinado que, em terreiros de estrutura maior, os mais antigos, se tem para preparar somente os pratos dos Orixás e, sim, um espaço criado e redefinido a cada momento,no terreiro, através da separação dos objetos, utensílios e mudanças de comportamento. Tudo participa do sagrado: o espaço em si , as panelas, travessas, pratos, bacias, cestos, peneiras, colheres de pau, ralos, o pilão, as frigideiras, formas de assar e sobretudo as pessoas que nele transitam.
A cozinha é cheia de interdições como: não conversar mais que o necessário, não falar alto, gritar, cantar ou dançar músicas que não sejam do santo; não entrar pessoas que não sejam iniciadas-dependendo do que se estiver fazendo, somente um número muito restrito-não admitir que mulheres menstruadas permaneçam nela, etc. Neste espaço sacralizado, tudo vai ganhando significado: a bacia que cai, o garfo, a faca, a colher, o óleo que faz fumaçar o fogo, etc.Na cozinha se aprende além do “ponto” certo de determinado prato, que não se dá as costas para o fogo, não se joga sal no chão, não se mexe comida de Orixá com colher que não seja de pau, que a comida mexida por duas pessoas desanda, que não se joga água no fogo e que muitas pessoas por terem o sangue ruim fazem a comida desandar. Ou que a presença de pessoas de um determinado Orixá faz com que uma certa comida não dê certo, como por exemplo: em cozinha onde se tem gente de Xangô o milho de pipoca queima antes de estourar. Pela cozinha, entram as pessoas de maior prestígio na Religião e é nela própria que, em certas ocasiões, muito antes mesmo de se chegar no peji do Orixá, que este é consultado a fim de se saber se a comida foi bem preparada ou não.
Embora marcada por vários limites, a cozinha é mesmo escola mestra, local onde se aprende as lições mais antigas, através do exercício longo e paciente da observação. Local onde permanecem por maior período de tempo os iniciados, seja varrendo, lavando, limpando, guardando, acendendo ou mantendo o fogo, cozinhando, com olhos e ouvidos atentos a tudo que se passa nela. Daí entende-se o dizer corrente: Candomblé mesmo é cozinha!!!” Talvez por ser ela mais que um local de transformação e sim de passagem e transmissão de conhecimento, por onde transita algo essencial que ultrapassa os limites das oposições por situar-se no mais intimo e profundo ser do homem: o comer.



Na foto : Babalorisá Erick T'Osalá e a Iabasé do ILÊ BABÁ OMI, Yá Cleusa de Oyá

O CULTO À CABEÇA NA RELIGIÃO DO CANDOMBLÉ.


Ajalá é o oleiro primordial. Ele representa o aspecto mais orgânico do ser humano; o tipo de barro, de maior ou menor qualidade, mais ou menos cozido (o que implica maior ou menor número de problemas), mais claro ou escuro. Ajalá mistura ao barro folhas, frutas, minérios, sangues e uma série de materiais que determinam como será aquela pessoa, como Ori poderá agir nela. Estes ingredientes, com o tempo perdem o axé (energia) e precisam ser, de vez em quando, repostos, o que é feito nos rituais de candomblé, entre eles a iniciação.

Diz um dos mitos que Ajalá foi incumbido de moldar as cabeças dos homens com a lama do fundo dos rios e outros elementos da natureza. Ele moldava as cabeças e as punha para assar em seu forno. Ajalá tinha, contudo, o hábito de embriagar-se enquanto cozia o barro e criou muitas cabeças defeituosas, queimando algumas e deixando outras com o barro cru. A causa dos problemas que muitas pessoas apresentam antes de serem iniciadas viria exatamente de um ori cru, ou queimado, ou mal proporcionado feito durante alguma bebedeira de Ajalá. Como os orixás não gostam de cabeças ruins, a pessoa ficaria desprotegida, sem a energia do orixá.


Da fusão da palavra bó, que em ioruba significa oferenda, com ori, que quer dizer cabeça, surge o termo bori, que literalmente traduzido significa “ Oferenda à Cabeça”. Do ponto de vista da interpretação do ritual, pode – se afirmar que o bori é uma iniciação à religião, na realidade, a grande iniciação, sem a qual nenhum noviço pode passar pelos rituais de raspagem, ou seja, pela iniciação ao sacerdócio. Sendo assim, quem deu bori é ( Iésè órìsà ).


Cada pessoa, antes de nascer escolhe o seu ori, o seu princípio individual, a sua cabeça. Ele revela que cada ser humano é único, tendo escolhido suas próprias potencialidades. Odu é o caminho pelo qual se chega à plena realização de orí, portanto não se pode cobiçar as conquistas do outro. Cada um, como ensina Orunmilá – Ifá, deve ser grande em seu próprio caminho, pois, embora se escolha o ori antes de nascer na Terra, os caminhos vão sendo traçados ao longo da vida.


Exu, por exemplo, nos mostra a encruzilhada, ou seja, revela que temos vários caminhos a escolher. Ponderar e escolher a trajetória mais adequada é tarefa que cabe a cada ori, por isso o equilíbrio e a clareza são fundamentais na hora da decisão e é por meio do bori que tudo é adquirido.


Os mais antigos souberam que Ajalá é o orixá funfun responsável pela criação de ori. Dessa forma, ensinaram – nos que Oxalá sempre deve ser evocado na cerimônia de bori. Yemanja é a mãe da individualidade e por essa razão está diretamente relacionada a orí, sendo imprescindível a sua participação no ritual.


A própria cabeça é síntese de caminhos entrecruzados. A individualidade e a iniciação (que são únicas e acabem, muitas vezes, se configurando como sinônimos) começam no ori, que ao mesmo tempo apota para as quatro direções.


A CABEÇA:


OJUORI – A TESTA
ICOCO ORI – A NUCA
OPA OTUM – O LADO DIREITO
OPA OSSI – O LADO ESQUERDO


Ajalá é orixá muito antigo. Olorum deu a Ajalá a tarefa de modelar o ori ( a cabeça) das pessoas. Todos os dias, Ajalá faz muitas cabeças que depois de prontas, são colocadas ao sol.
Quando uma pessoas esta para nascer, ela antes vai até Ajalá para escolher uma cabeça.


O material usado para modelar cada cabeça dá, á pessoa que a escolher, seu destino e seus ewós ( proibições). Ori, portanto, e a parte pessoal da existência de cada um. Ao escolher uma cabeça, a pessoa esta também escolhendo o seu odu. O odu é semelhante ao signo astrológico e rege a vida da pessoa durante sua permanência no aiyê. Só Ajalá e Orumilá conhecem o odu de cada um. Por isso, o odu só pode ser desvendado através do jogo.


A cabeça nasce antes do corpo, sendo mais velha que a pessoa e até mesmo que o orixá que a tomou no momento em que ela nasceu. Por isso, antes de mais nada as pessoas devem adorar seu ori, cuidar dele. Cada pessoa tem o seu ori, não existindo dois iguais. Mas mesmo sendo único, o ori trás com ele a marca da ancestralidade.


O local de onde Ajalá tira a massa para modelar Ori é chamado ipori e aí se encontra a herança de cada um, especialmente do pai da mãe. Assim, tendo Ori em si um componente de ancestralidade, as pessoas devem, antes de tudo, venerar seus antepassados.


O alimento preferido da cabeça é o obi ( noz de cola ). O obi pode ser oferecido á cabeça sozinho ou acompanhado de outros alimentos. A obrigação na qual se “dá comida á cabeça” é o Bori.


Bori significa “festejo a cabeça, assim como outras obrigações são festejos aos Orixás ou aos ancestrais. Mesmo uma pessoa não iniciada pode dar um bori, desde que o jogo assim o recomende. Assim como qualquer outra obrigação, o bori deve ser precedido por um jogo, que indicará não só sua conveniência, como também tudo que deverá conter a obrigação, inclusive a descriminação dos alimentos a serem oferecidos.


A cabeça está no nascente e os pés no poente,. Por isso, durante o bori os ancestrais da pessoa são invocados, batendo no pé direito para chamar o pai e no pé esquerdo para chamar a mãe. O simbolismo dos pés, em contraposição ao simbolismo da çabeça, é importante. Os pés estão em contato direto com a terra.


Assim como a cabeça recebe o Orixá, o pé a parte do corpo que permite a comunicação com os ancestrais. É na terra que os mortos são enterrados e é da terra que saem os eguns – espíritos dos mortos, que são os ancestrais cultuados nos terreiros de Kêtu.


O bori é uma obrigação que visa fortalecer a cabeça para que ela esteja preparada para sustentar a pesoa, seja na vida particular, seja na vida religiosa. Por isso, quando uma pessoa está atravessando uma fase difícil, usa-se recomendar um bori. Na vida religiosa, o bori tem também uma função determinante: é uma participação , uma forma de pedir licença a Ori para fazer qualquer coisa na cabeça da pessoa.


Outro aspecto importante é que o Orixá não pode atuar de forma positiva sobre a cabeça de um filho se essa pessoa estiver com a cabeça “fraca”. Como o agricultor prepara a terra onde a semente deverá germinar, também a Yalorixá ou Babalorixá prepara Ori para receber os axés que serão dados pelos seus filhos.



Na foto: Babalorixá Erick T'Osalá e Yá Cida T'osun- ILE BABÁ OMI

Thursday 17 February 2011

YÀMÍ OSORÒNGA E SEUS TÍTULOS...



Iyami-Ajé - (Iyá Mi Ajé = Minha Mãe Feiticeira) também conhecida por Iyami Oxorongá - é a sacralização da figura materna, por isso seu culto é envolvido por tantos tabus. Seu grande poder se deve ao fato de guardar o segredo da criação. Identificada no jogo do merindilogun pelo odu Ôxê


Tudo que é redondo remete ao ventre e, por consequência, as Iyá Mi. O poder das grandes mães é expresso entre os orixás por Oxum, Iemanjá e Nanã Buruku, mas o poder de Iyá Mi é manifesto em toda mulher, que, não por acaso, em quase todas as culturas, é considerada tabu.


Iyami Ajé na forma de pássaro (Coruja Rasga-Mortalha[1] ou coruja rasgadeira) pousa nas árvores favoritas durante a noite principalmente na jaqueira (Artocarpus heterophyllus). Contam os antigos africanos que quando a coruja rasgadeira sobrevoa fazendo seu ruído característico ou aproxima-se de uma casa é porque vai morrer alguém.


TÍTULOS DE ÌYÀMÌ


Ìyàmì-Òsòróngà = Poderosa Mãe cultuada na Sociedade Osoronga.
Ìyàmì-Ajé = Poderosa Mãe administradora do Poder Sobrenatural. Titulo
em alusão quando seu culto é realizado na LUA NOVA na finalidade de
utilização dos poderes sobrenaturais em defesa a uma agressividade
(feitiço), ou relacionado aos projetos, ideais, envolvimentos e
recolhimento de Yawo. "Por ser o ciclo mais escuro da lua".

Ìyàmì-Eleye = Poderosa Mãe Proprietária dos Pássaros.
Ìyàmì-Oduwà = Poderosa Mãe proprietária do recipiente da existência
(o mundo).


Ìyàmì-Odu = Recipiente – Útero – Cabaça – O Planeta – Ovo – Esfera
existencial.

Ìyàmì-Alaiye = Poderosa Mãe proprietária de toda extensão Terrestre.

Ìyàmì-Ekunlaiye = Poderosa mãe que inunda a Terra com Água...

Ìyàmì-Iyemonja = Poderosa Mãe senhora que possui muitos filhos como
cardumes de Peixes. "Uma alusão a sua qualidade anfíbia a quantidade
de ser humanos existentes na terra comparada aos peixes no Mar".
(Titulo relacionado a Egun e não a Ogun como muitos erradamente
afirmam )

Ìyàmì-Iyemowo = Poderosa Mãe que é o próprio dinheiro de suas filhas
(búzios). "uma alusão a grande quantidade de búzios que utiliza em
suas roupas" (Titulo que é cultuada no culto de Orisanlá).

Ìyàmì-Omolu = Poderosa Mãe a filha sagrada de Deus. (Título que é
cultuada ao lado de Obaluwaiye)

Ìyàmì-Omolulu = Poderosa Mãe rainha das formigas. "Uma referencia ao
fato de esta associada ao subsolo (Título que é também cultuada no
culto de Obaluwaiye).

Ìyàmì-Ori ou Iya-Ori = Poderosa Mãe das Cabeças. "Uma alusão ao fato
de está relacionada aos rituais de sacrifício animal sobre uma
cabeça". (Titulo que é também cultuada nos ritos de Bori).

Ìyàmì-Buruku = Poderosa Mãe Antiga. Uma referencia ao planeta na sua
antigüidade existencial.

Ìyàmì-Agba = Poderosa Mãe ancestral associada ao poder feminino.

Ìyàmì-Ako = Poderosa Mãe que é o pássaro Ako. Titulo referente ao 3o
dia da lua cheia e a seu culto exatamente na sociedade das Geledes.

Ìyàmì-Iyelala = Poderosa Mãe senhora dos sonhos. (relacionada a
revelação de situações através de sonhos).



Ìyàmì-Ayala = Poderosa Mãe esposa daquele que é o Céu. "Uma
referencia ao fato da Terra ser coberta pelo Céu o próprio
Oorisanla".

-Ìyàmi Onilé = Poderosa Mãe proprietária da Terra. "Titulo referente a
reverencia e aos rituais realizados dentro da terra". Outra
referencia é ao fato de ser o lugar mais próprio de se cultuar toda
classe de espíritos, na qual Ela é a grande apaziguadora desses
espíritos ou forças rebeldes. Numa única função de tranqüilizar,
apaziguar ou neutralizar qualquer tipo de força oculta agressiva.
Òdu-Logboje = Cabaça Existencial no Universo. Uma referencia ao
planeta Terra.



Ìyàmì-N'la = Poderosa grande Mãe. Uma referencia a grandeza do
planeta Terra e seu culto elementar. Titulo que plagia o titulo de
Orisa'nlà.

Ìyàmì-Asiwòró = Poderosa Mãe canalizadora das energias nos ritos
tradicionais.

Ìyàmì-Osupa = Poderosa Mãe que controla as força da lua.

Ìyàmì-Petekun = Poderosa Mãe que é povoada. Uma referencia a relação
com Èsu.

Ìyàmì-Ako = Nome de Ìyàmì dentro da sociedade Gelede, titulo que
assume o posto de primeira Dama desta sociedade.

Ìyàmì- Egeleju = Poderosa Mãe dos olhos delicados.

Ìyàmì-Eleje = Poderosa Mãe proprietária do fluxo da vida (sangue).

Ìyàmì-Oru-Alé = Poderosa Mãe da madrugada ou Noite.

Ìyàmì-Oga Igi= Poderosa Mãe que faz o alto das árvores de trono. Uma
referencia ao fato dos Pássaros pousarem no cume das grandes árvores.

Ìyàmì-Ilunjó = Poderosa Mãe que dança o ritmo da morte. Uma
referencia ao ritmos tocado para Ogun "Aquele que dança o ritmo da
morte".

Ìyàmì-Elesenu = Poderosa Mãe Proprietária de todos os órgãos internos
(vísceras).

Ìyàmì-Apaki = Poderosa Mãe que mata. Uma referencia ao fato que no
decorrer da vida acontece a morte.

Ìyàmì-Naré = Poderosa que o próprio ventre.

Ìyàmì-Araiye = Poderosa Mãe que controla todos os espirito da Terra
(encarnados e desencarnados).

Ìyàmì-Koko = Poderosa Mãe Anciã. Uma referencia a antigüidade do
planeta.

Ìyàmì-Kekere = Poderosa Mãe pequena do universo. Uma referencia
aofato de Iyami ser a administradora da vida no planta auxiliando
Olodunmare (Deus ).

Ìyàmì-Olotojú = Poderosa Mãe que espia do alto. Uma referencia ao
fato dos pássaros pairarem no Ar e observarem tudo de cima.

Ìyàmì-Arajado = Poderosa Mãe que olha para o Céu. Uma referencia ao
fato da Terra esta coberta pelo Céu.

Ìyàmì-Oloriyàmi = Poderosa Mãe proprietária das águas. Uma referencia
aos Mares e a água do útero.

Ìyàmì-Mase malè (Abrev.: Iyamase malè) = Poderosa mãe que não permite
o mal chegar na noite... Uma alusão às noites em que sobrevoa na sua
forma de pássaro, nos lugares em que é invocada e reverenciada com
louvores e saudações. Título este muito reverenciada nas rodas de
Sango (Egungun) quando e enquanto dançam em volta da fogueira ao ar
livre, fato memorável ao poder sobrenatural que possibilita Sàngó
como o grande Egungun (ancestral) voltar à Terra possuindo seus
Eleguns durante as festividades.



Na foto- Babalorixá Erick T'Osalá ladeado por Osún manifestada em uma iniciada, em festejo de Candomblé.

Wednesday 2 February 2011

A ARTE SACRA NO CANDOMBLÉ NA VISÃO DE PAI ERICK T'OSALÁ



O candomblé expressa nativamente sua religiosidade em manifestações musicais,em suas lendas,seus festejos, sua culinária, seus rituais e também em sua arte manual.
Por ser uma religião que tem lutado para manter seu legado de conhecimentos, em 1998 o babalorixá Erick T'osalá, de forma simples e preocupada começou a desenhar e registrar artisticamente a imagem dos deuses africanos em sua intimidade de detalhes e personalidade, com o objetivo de um dia algum artista poder esculpir em madeira ou qualquer outro material, essas idéias.
Chegando no nordeste brasileiro,pai Erick T'osalá conheceu um escultor de muita idade,Seu Antonio Santos.Artista esse escolhido para dar forma fiel à arte até então exposta em papel.
Aceitando o desafio, Seu Antonio trabalhou de forma ímpar e numa riqueza de autenticidade incontestável,traduzindo as obras religiosas em madeira de jaca e pau-brasil.
Todo o acervo de peças hoje está aos cuidados do babalorixá Erick T'Osalá,que possui praticamente todos os orixás esculpidos no Ilê Babá Omi, casa de candomblé situada em São Paulo.
Algumas peças já participaram de amostras internacionais e o próximo projeto é que três peças sejam expostas no Museu de arte aplicada de Viena-MAK.
Dessa forma a ideologia de manifestar a "arte sacra dos orixás" se realizou pela vontade de pai Erick,registrando assim o legado íntimo dos deuses orixás na sua visão particular e tradicional.




Na foto- Logum-edé, esculpido em pau-brasil, no ano de 2000.