Assista no YouTube: Eric de Oxalá-Oficial

Thursday 23 December 2010

OXOGUIÃ- ORISÁ DO TEMPO FUTURO



O chamado “ciclo das águas”, ocasião em que alguns terreiros rememoram os ancestrais fundadores se encerra no décimo sexto dia com a celebração dos inhames. Neste dia, os passos lentos dos ancestrais são alternados por passos mais rápidos e o toque compassado dos atabaques cede lugar ao “toque de guerra”. É a festa do pilão. Sem sombra de dúvida, para os grupos que caminhavam sem parar, tal utensílio, significou uma verdadeira revolução tecnológica, semelhante a descoberta do fogo, da roda e do ferro. Agora se podiam conservar os alimentos através de farinhas transformadas posteriormente em papas. Tal celebração se desenvolve em torno de um ancestral sobre o qual não se fala muito nos terreiros, não se chama o nome e possui culto cercado de significações e mistérios: Oxoguiã, fundador do reino de Egigbô. Acredita-se que Oxoguiã seja a própria guerra. Ele representa as dificuldades e desafios que os primeiros grupos humanos enfrentaram para consolidar as civilizações. Se Oduduwa é o universo e Oxalufan, a criação, Oxoguiã é o principio universal que mantém as coisas vivas. Daí ele se confundir com a própria comida servida neste dia. Já tivemos a oportunidade de lembrar que a comida é fonte de axé, transmite vitalidade, calor e um quando o calor cessa, o corpo morre. De acordo com alguns mitos, Oxoguiã teria inventado a mão de pilão e garantido a sobrevivência e o esplendor do reino de Egigbô. Ainda hoje em tal região se comemora tal festa. Segundo algumas histórias, alimentados durante vários anos por tal raiz, homens e mulheres se fortaleceram e foram consolidando as civilizações. Este é pois um dos sentidos da “festa do inhame”ou “festa do pilão”, quando os terreiros de candomblé são invadidos por tempos míticos que se alternam num mesmo momento: a vida e a morte, a guerra e a paz, a fome e a abundância, as doenças e a saúde. Tudo acontece de forma muito rápida em torno de um pilão, protegido por um pano branco, o mesmo que representa a criação. Ao mesmo tempo em que a comida é servida, varas rituais, as mesmas utilizadas para evocar os antepassados e chamar a chuva, garantindo a fertilidade da terra, são distribuídas entre algumas pessoas que dão início a uma guerra ritual, batendo uma nas outras e nos presentes. Este ritual se reveste de tal significado que é proibido ficar parado. Ë preciso correr, dar voltas a fim de não afrontar tal orixá. Diz-se também que é um momento de “tirar as pragas”, e o povo africano bem sabe o que isso significa na sua vida. Assim sendo, há algumas pessoas que acreditam ser este também um ritual de purificação. Conceito que certamente alguns grupos africanos receberam do islamismo. Após esse ritual, a consolidação das primeiras civilizações está garantida, pode-se assim viver um novo momento, o tempo do “povo do azeite”, dos ancestrais filhos, representados por Exu, Ogun, Odé e Ossain, ancestrais que em alguns momentos confunde-se com o próprio Oxoguiã, pois ele está na fronteira da vida e da morte, do dia e da noite. Com Oxoguiã os elementos que compõem o universo não possuem definições rígidas. Ele nos ensina que não podemos olhar para trás, mas que é preciso seguir sempre em frente, pondo fim, assim na noção de passado. Em outras palavras, não há o que aconteceu, mas o futuro próximo eternizado em cada momento presente vivido em plenitude. Oxoguiã é o ancestral do coração, símbolo da inteligência africana. Conta um mito que para ele percorrer todos os cantos da terra, alternou a cor branca símbolo da criação pela azul, tornando-se invisível. O símbolo maior dessa festa é o ilhame amassado, comido também as pressas protegido pelo pano branco suspenso sobre nossas cabeças, para ganhar força, afinal a guerra não espera. Precisamos estar fortalecidos para vencê-la sempre. Comer tal iguaria fora desse pano se acredita provocar efeito contrário. Para um orixá sobre o qual não se fala muito, acreditamos que já dissemos o suficiente. Para concluir vamos fazer memória de alguns filhos e filhas desse ancestral presentes na cidade de Salvador. Iniciemos por Tia Massi, uma das sacerdotisas mais lembradas pelos terreiros de tradição ketu. Tia Massi era filha de Oxoguiã e liderou o Candomblé do Engenho Velho por muitos anos, falecendo com mais de cem anos. Ela foi a iniciadora de grandes lideranças religiosas como Mãe Tatá, atual Yalorixá da Casa Branca. Gostaríamos também de lembrar da Mameta de Nkice Xagui, que neste ano celebrou setenta anos de iniciação. É também de Oxoguiã, Mãe Carmem, filha consangüínea de Mãe Menininha do Gantois e atual Yalorixá. Por fim, há ainda Air José, descendente consangüíneo de Tio Bangboxé que a mais de quarenta anos lidera o Ilê Odô Ojê, popularmente conhecido como Pilão de Prata. A todos eles e ainda a aqueles que deixamos de mencionar o nosso respeito e admiração por encarnarem na sua vida a determinação e o desejo, como Oxoguiã, de ver continuada a obra de nossos fundadores, inaugurando um novo tempo, um tempo onde não se é permitido ficar parado, onde é possível manter relações com outros povos. Parar apenas para comer a massa de inhame pilada, ou fazer o mingau, a papa, a polenta, mesmo assim de olhos e corpos inteiros atentos, afinal o tempo não pára, o amanhã é um momento eternizado no hoje, na dúvida de compreender o provérbio é melhor optar por seu um guerreiro e ir a luta.
Publicado por Wilson Caetano de Souza Junior

Thursday 9 December 2010

RELIGIÃO DE RESISTÊNCIA

http://www.espacomulher.com.br/ema/ema_edicao91.html

Sacerdotes de Matrizes Africanas foram homenageados em São Paulo

Por iniciativa do José Cândido e do Portal do Candomblé aconteceu no dia 6 de agosto, o Ato Solene em homenagem aos sacerdotes de Matriz Afrobrasileira.

O evento aconteceu no auditório Franco Montoro na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, av. Pedro Alvarez Cabral, 201 – Parque do Ibirapuera.

Os sacerdotes de Matriz Afrobrasileira há muito vêm sendo relegados a um segundo plano em vários aspectos de nossa sociedade.

Fato inegável é seu importante papel social ao ajudar a amenizar as dores da sua comunidade através de ajuda espiritual e às vezes até financeira.

Autoridades presentes: Álvaro Batista Camilo - Comandante Geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo; Dr. Antonio Carlos Malheiros / Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo; Antônio Ferreira Pinto / Secretario de Estado de Segurança Pública; Edson Santos / Ministro da SEPPIR, Hédio Silva Júnior; José Eduardo Oliveira / Presidente do CNAB – Congresso Nacional Afro Brasileiro; Luis Flávio Borges D’Urso / Presidente da OAB-SP; Luiz Antônio Guimarães Marrey / Secretario de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo; Marco Antônio Zito Alvarenga / Presidente da Comissão Antidiscriminatória da OAB-SP; Antônio Ferreira Pinto / Secretario de Estado de Segurança Pública; Otunba Adenkule Aderonmu / Príncipe, Paulo Paim / Senador da República; Renato Simões / Movimento Nacional de Direitos Humanos; Roberto Tameilini Junior / Advogado; Sebastião Arcanjo; Sinvaldo José Firmo / advogado; Sikiru King Salami - Prof. KING; Ubiraci Dantas de Oliveira / Vice Presidente do CNAB; Vicente Cândido / Deputado Estadual; Vicente Paulo da Silva / Deputado Federal; Zulu Araújo / Presidente da Fundação Cultural Palmares.

Os Homenageados foram:

Sacerdotes Candomblé

1. Babalorisá Alaepeoni
2. Babalorisá Alabiy
3. Áwò Akanì Ífàtokunmbo Erin Epega
4. Babalorisá Celso de Osalá
5. Babalorisá Cesar d’Osun “Iyamife”
6. Babalorisá Erick de Osala
7. Babalorisá Eduardo de Logunede
8. Babalorisá Flávio de Osossi
9. Babalorisá Flávio de Iansã
10. Babalorisá Francisco d’ Osun
11. Babalorisá Gladston ti Inlé
12. Babalorisá Gilmar d’Ogun
13. Babalorisá Jamil Rachid
14. Babalorisá João Batista M de Souza de Aira
15. Babalorisá José Carlos de Ibualamo
16. Babalorisá Karlito de Oxumare
17. Babalorisá Kaobakessy
18. Babalorisá Kilombo de Omolu
19. Babalorisá Lilico d’Osun
20. Babalorisá Loagikaceny
21. Babalorisá Marcelo Fomo de Logunede
22. Babalorisá Nenen de Obàtálá
23. Babalorisá Obasoji
24. Babalorisá Ogun Dimoloko
25. Babalorisá Paulo de Ode “Odemutakeregi”
26. Babalorisá Pérsio de Sangó
27. Babalorisá Rodney de Osossi
28. Babalorisá Rozevaldo de Osumare
29. Babalorisá Sidnei de Sango
30. Babalorisá Tinho de Ode
31. Babalorisá Vadinho do Ogun
32. Babalorisá Valter Logun Ede
33. Hungbono Jeferson de Azansu
34. Tat’etu Alabure
35. Tata Alamussangi de Lembarenganga
36. Tata Gil de Malé
37. Tata Katuvanjesi
38. Tat’etu Koneji
39. Tat’etu Nzaziankembu
40. Ogan Rafael de Obaluaye

Mais informações: http://www.portaldocandomble.pro.br e em http://www.josecandido.com.br/noticias_exibir.php?noticia_id=256.

(Fonte: assessoria de imprensa gabinete deputado)

Monday 6 December 2010

OS TRÊS DOMINGOS DE OSALÁ


FOTO: ORISÁ AJAGUNÀ DE BABÁ ERICK DE OSALÁ EM FESTEJO NO ILÊ BABÁ OMI




    OXALÁ

(do livro História de um Terreiro Nagô - Deoscóredes Maximiliano dos Santos- Mestre DIDI - Max Limonad-Joruês Cia Editora)

O Ciclo de Oxalá, Pai de Todos os Orixás

Os Três Domingos de Oxalá

Primeiro Domingo

As festas começam da mesma maneira que as demais já descritas, com uma diferença: todos os filhos do terreiro são obrigados a vestir roupa branca e não podem comer absolutamente nada que contenha sal, sangue ou dendê.

No intervalo da festa destinada à troca de roupa dos orixás, os presentes são servidos de adié (galinha cozida somente com cebola e ori - limo da costa), ebô (milho branco cozido com água sem sal), com o acompanhamento de aluá.

Depois dos orixás terem trocado de roupa, a Iyalorixá dá a ordem para os Alabê tirarem o cântico apropriado à entrada de Oxalá, canto que serve também para os demais orixás, que já estão vestidos e esperam no barracão:

Agô lonã morê ua ni xê

Agô agô lonã

Aí entram três filhas manifestadas com o grande Oxalá, vestidas de alvo, trazendo em uma das mãos o opaxorô, um cajado prateado com muitos enfeites. Na cabeça usam o adê (coroa), um prateado e os outros dois de pano todo bordado, com contas brancas. Dançam ao som dos atabaques, agogôs e xequerés (cabaça revestida de contas) algumas cantigas:

Ô fururu ló ô rê ô

ô kenen en lejibô

Ilê ifá motiuá babá

Okêrêrê lejibô ô

Eru ya eru ya ô

Euá ô euá e xê

Quando se canta essa cantiga, o orixá Oxalufã - Oxalá velho - dança, curvado pelo peso de sua velhice.

Quando os Oxalá já dançaram bastante, a Iyalorixá tira a seguinte cantiga:

Babá uô ri uô

Mele rin ô

Babá uô ri uô

Os orixás se retiram do barracão, com várias filhas a ampará-los e segurar-lhes as vestes. Logo em seguida a Iyalorixá também se retira, dando por encerrada a festa e convidando a todos para assistir à festa do domingo próximo.

Segundo Domingo

Nesse dia Oxalá recebe, das mãos de todo terreiro, a oferenda de uma cabra, várias galinhas, patos e pombos brancos.

À tarde, depois de ser feito o Padê, o assento de Oxalá sai do Balué em cima de uma charola muito bonita, toda ornada por angélicas, carregada pela Iyalaxé, a Iyamorô e outras duas pessoas da seita. A charola é coberta com o alá, um pano grande, todo alvo, seguro por uma das mãos de cada um que ali se encontra acompanhando a procissão. Daí seguem em direção ao Cruzeiro, reverenciando a casa do Ibó. Em seguida, voltam para a Casa Grande, nome dado a uma casa branca muito comprida, onde alguns orixá, entre eles Iyá, orixá da nação Grunci, têm assentados os seus peji...

Chegando à casa, entram com o andor, recolhem o alá e depositam Oxalá no seu peji. Depois fazem o oriki(saudação) e os orixás começam a chegar, menos os Oxalá, que já vinham acompanhando a procissão.

Em seguida, levam os orixá para trocar de roupas. No intervalo, os visitantes são servidos das mesmas iguarias do primeiro domingo - adié, ebô e aluá.

Os orixá, já de roupas trocadas, chegam ao barracão e dançam as cantigas tiradas então pela Iyalorixá. Neste domingo, além de Oxalá, chegam outros, como Nanã, Iemanjá, Ogun. Dançam uma porção de cantigas, até mais ou menos 11 da noite, quando a Iyalorixá manda fazer a roda de costume. Uma das cantigas que ela tira agora é essa, que convida os orixá a entrarem no barracão e dançarem:

Durô dê uá loná

ê á um bó keuá jô

Durô dê uá loná

ê a un bó keuá jô.


Terceiro Domingo

(Ojó Odô ou Dia do Pilão) - Às três da tarde, começam os preparativos para o início das obrigações. As filhas da casa, em grande atividade, fazem o necessário para que, em uma hora, tudo esteja preparado na sala da casa de Oxalá, a Casa Grande. Na procissão do Pilão, as filhas trazem bancos, mesas, panelas, balaios, tudo forrado por panos brancos e enfeitadas com ojás e com um feixe de atori (varinhas). Reúnem-se então todas as filhas, e, depois, a mãe Iyalorixá tocando seu ajá, faz as reverências precisas e com um dos atori toca os ombros das filhas de Oxalá, até que elas são manifestadas, iniciando-se assim os festejos. Cada uma das filhas da casa vai apanhando um daqueles apetrechos, de acordo com sua posição e seu eledá(guia). Quando todos estão prontos, vão saindo em procissão para o barracão e arriam todos os objetos em ordem, fazendo uma bonita arrumação, como num peji.

Todo esse preceito é acompanhado por cânticos adequados, até que por fim os Oxalá começam a obrigação dos atori. Primeiro Oxalá se senta e a Iyalorixá lhe entrega uma das varas. Em seguida, entrega varinhas também às filhas mais velhas da casa. Tiram uma cantiga e as pessoas, que estão munidas das varinhas, vão dançando em frente a Oxalá, que, batendo com a sua própria, faz como se estivesse surrando seus filhos. Logo após, todos vão tocando com as varinhas uns nos outros, e depois em todos os presentes, ao som da seguinte cantiga:

Uá mi xorô

Uá xorô ni ilê

Tanun apê ô

Uá mi xorô

Uá xorô ni ilê Terminada essa obrigação, tiram outra cantiga, que inicia a divisão das comidas:

Ô fururu lo êre ô

Ô keienen lejibó

Ilê ifan motiuá babá

Aji bô relê mojubá ô

Oluá êruáô éuáô êuáêxê

euá ô euá exê babá

euá ô euá exê

Além das comidas de costume, é servido inhame pisado em forma de bola, que vem dentro de um pilão. Depois com um novo cântico, são retirados todos aqueles apetrechos do barracão:

Xên xên un bé lôkô

Xên xên xên xên

Nilê ô xên xên?

Os orixás começam então a dançar, como de costume. Oxalá, mais belo que nunca em suas roupas maravilhosas, dança com aquele jeito calmo todo seu, sempre apoiado em seu opaxorô.

Por volta das onze horas, faz-se a roda para dar término à festa, fechando assim todo o ciclo das obrigações de Oxalá.

Sunday 31 October 2010

ACARAJÉ- Comprando a liberdade.



Nem todos sabem que o akará é um alimento sagrado, oferecido a Oyá, também chamada de Iansã - deusa africana que controla ventos, tempestades, relâmpagos e fogo. Uma lenda africana conta que Iansã, após se separar de Ogum e se unir a Xangô, foi enviada pelo segundo marido à terra dos baribas em busca de um preparado que, ingerido, lhe desse o poder de cuspir fogo. Com sua ousadia, a deusa provou do líquido e ganhou o poder. Relatos históricos revelam ainda que para homenagear os deuses, os africanos fazem cerimônias com o fogo, como o àkàrà, onde o iniciado engole mechas de algodão embebidas em azeite-de-dendê em combustão - ritual que lembra o preparo do tradicional acarajé.



Comprando a liberdade...


No Brasil colonial, o acarajé era vendido nas ruas em tabuleiros que as escravas equilibravam sobre suas cabeças, enquanto iam cantando para atrair a freguesia. Com as vendas da iguaria, muitas delas conseguiam comprar sua própria liberdade. O nome "acarajé" pode ser uma versão reduzida do pregão cantado por essas mulheres, no início do século XIX. O músico Dorival Caymmi reproduziu livremente, em sua música A preta, um deles: "O acará jé ecó olailai ô", que seria o chamado para que o freguês comprar o acarajé.
No início, o feijão fradinho era ralado na pedra, de 50cm de comprimento por 23 de largura, tendo cerca de 10cm de altura. A face plana, em vez de lisa, era ligeiramente picada por canteiro, de modo a torná-la porosa ou crespa. Um rolo de forma cilíndrica, impelido para frente e para trás, sobre a pedra, na atitude de quem mói, triturava facilmente o milho, o feijão, o arroz, como explica o autor da primeira descrição etnográfica do acarajé, Manuel Querino em seu texto "A arte culinária na Bahia", de 1916. Só com o passar do tempo, surgiram moinhos elétricos para facilitar o trabalho.



Religiosidade...


Antes, as únicas pessoas autorizadas a vender o acarajé eram as filhas de Iansã e Xangô, mas por causa da popularização do quitute começaram a surgir baianas de todas as religiões. Hoje, além das mulheres, também é possível encontrar homens fazendo acarajé. O interessante, no entanto, é que todos preservam um respeito inabalável pelos rituais que cercam o ato de preparar os bolinhos.

A famosa vendedora Reginae em Salvador/BA, por exemplo, não pega nos materiais sem antes tomar um "banho de axé" (banho de folhas). Quando chega em seu ponto, em Itapuã, ela faz sete acarajés pequenos para limpar e deixar a rua livre e tranqüila.



Por Bruno Porciuncula - bruno.porciuncula@corp.ibahia.com



Em tempo é importante ressaltar que acará Oferecido ao orixá Iansã diante do seu Igba orixá é feito num tamanho de um prato de sobremesa na forma arredondada e ornado com nove ou sete camarões defumados, confirmando sua ligação com os odu odi e ossá no jogo do merindilogun, cercado de nove pequenos acarás, simbolizando "mensan orum" nove Planetas. (Orum-Aye, José Benistes).
O acará de xango tem uma forma Ovalar imitando o cágado que é seu animal preferido e cercado com seis ou doze pequenos acarás de igual formato, confirmando sua ligação com os odu Obará e êjilaxeborá.


Ps-A imagem é arquivo da Revista do Rio Vermelho- http://www.acirv.org




Monday 4 October 2010

A figura do patriarcado no Candomblé.


O Babalorixa , é um sacerdote e chefe de uma Casa de Candomblé.
Na sua função sacerdotal, faz consultas aos Orixás através do jogo de búzios, uma vez que, no Brasil, não há o hábito de se consultar o Babalawo, chefe supremo do jogo de Ifá. Isso se deve à ausência da figura do mesmo na tradição afro-brasileira, desde a morte de Martiniano do Bonfim, segundo os mais antigos ocorrida por volta de 1943. Desde então, o professor Agenor Miranda era convocado para escolher a mãe-de-santo nos grandes terreiros baianos, mas agora, com os avanços tecnológicos e com a imigração voluntária de africanos para o Brasil, ouve-se falar de novos Babalawos na tradição brasileira, donde a necessidade de diferenciar Ifá de Merindelogun e jogo de búzios.
Na sua função administrativa, é o responsável maior por tudo o que acontece na casa - a quantidade de filhos-de-santo, a de pessoas e problemas a serem atendidos -, e nela ninguém faz nada sem a sua prévia autorização. Conta com a ajuda de muitas pessoas para a administração da mesma, cada uma com uma função específica na hierarquia, embora todos os auxiliares conheçam de tudo para atender a qualquer eventualidade.
Nas casas menores, o Babalorixá, além da função sacerdotal acumula diversas outras funções, devendo ser conhecedor das folhas sagradas, seus segredos e aplicações litúrgicas; em caso de rituais ligados aos Eguns, ou se especializa, ou consulta um Ojé quando necessário. Quando a casa ainda não tem um Axogun confirmado, ele mesmo faz os sacrifícios; quando a casa ainda não tem Alagbê, normalmente o Babalorixá convida Alagbês das casas co-irmãs para tocar o Candomblé; na ausência da Iyabassê ou Ekedi, ele mesmo faz as comidas dos Orixás, costura as roupas das Iaô, faz as compras e outras tarefas do dia-a-dia.
O candomblé pode ser considerado uma religião brasileira com origem em diversos sistema mítico-religiosos de origem africana. Nessa perspectiva corresponde simultâneamente a um sistema etnomédico ou medicina tradicional de matriz africana que vem sendo mantido (e recentemente reconstruído a partir das demandas pelo revival das medicinas tradicionais) a partir da sua origem nas diferentes culturas yorubá, bantu entre outras. A função do Babalorixá do nesse caso ganha destaque especial por sua relção com Obaluaiyê ou com a referida prática de colher as folhas sagradas atribuídas, segundo Bastide, ao Babalosaim dedicado ao culto de Osanyin.
No Ilé Babá Omi temos o Babalarixá Erick de Oxalá como a primeira pessoa do culto de candomblé,ocupando a cadeira de sacerdote de orixá.
Na foto, a imagem do zelador de orisá, Babalorixá Erick de Oxalá, sacerdote, historiador e comendador , no Ilé Babá Omi.

Friday 8 January 2010

A tão nobre Galinha D'Angola...


Adoro a legitimidade dessa resenha sagrada...leiam.


CONVERSA ENTRE OBATALÁ E OXUM


Obatalá... Espera, Oxum! Não posso interferir no processo de vida e morte, mas tenho, como tu mesma tens poderes para criar e consagrar símbolos que perpetuem um ser. Que o represente em qualquer situação e que possa ser renovado constantemente. Um símbolo vivo de alguém que já morreu! E este símbolo deverá participar de todos os rituais em nossa honra! E representará, com sua presença, não só a presença de seu pupilo, como também de todos aqueles que um dia receberam o sagrado OXU, que estabelece a aliança firmada entre o iniciado e seu Orixá! Um símbolo que possa representar também a Terra, onde habitam seus corpos depois de levados por IKU! A GALINHA D'ANGOLA gritaram todos em unissono. Oxum providenciou, imediatamente, uma galinha d'angola, que naquele tempo era inteiramente preta, e Obatalá lá soprou sobre ela pó de efun, pintalgando-a de branco, como hoje ela é. Oxum, então, modelou, com manteiga de orí da Costa, um cone ao qual acrescentou diversos componentes mágicos, e fixo-o sobre a cabeça da ave, dando a ela o status de ODOXU (aquele que possui OXU), que distingue os iniciados no Culto dos Orixás. OBATALÁ sentenciou: A partir desse dia, serás representado, em todos os rituais, por ETU, a galinha d'angola. Qualquer ritual em que ela não estiver presente, não será por nós validado. Esta ave é, a partir de agora o símbolo dos iniciados do qual foste o precursor e , por isso nascerá provida de OXU e da pintura de efun que é feita em minha honra! É por isso que, ainda hoje, a galinha d'angola deve estar presente em todas as cerimonias em honra aos Orixás, e uma parte dela compõe o OXU, que é colocado sobre a cabeça do neófito na hora de sua iniciação.


Trecho do livro - Igbadu - A Cabaça da Existência ( Adilsom de Oxalá) A Galinha D'Angola ( J. Flavio P. de Barros)

Ser iaô é...


Iyàwó, Iyawô, Yao ou Iaô palavra de origem yoruba, é a denominação dos filhos-de-santo já iniciados na Feitura de santo, que ainda não completaram o período de 7 anos da iniciação. Só após a obrigação de 7 anos ele se tornará um Egbomi (irmão mais velho). Antes da iniciação são chamados de abíyàn ou abian.
A pessoa passa a ser um Iaô após um período de vinte e um dias, recolhida no roncó (clausura), quarto específico e apropriado para se fazer iniciações e obrigações, e passar por todos os preceitos necessários para ser um iniciado.
É durante os sete anos, que a pessoa vai aprender as rezas, as cantigas, os preceitos, os segredos só confiados aos iniciados do Candomblé.

No Asé Babá Omi a palavra Iyawô é tida como sagrada e não tão rudemente relacionada com subordinação abusiva, pois possui significado interligado à Osalá, o pai da criação.

De acordo com o humbè do nosso sacerdote, Babá Erick T'Osalá, iyawò é o começo e o começo só será fundamentado no futuro se o hoje for visto e feito com respeito e fidelidade de asé.


Foto: Iaô de Osún saudando (dando paó ) a entrada da sala de festejo público do Asé Babá Omi, ao lado da Iabasé.

Ipadè de Exú...



O Ipadè (também chamado popularmente, embora erradamente, de Padê) de Exú é um ritual executado antes de qualquer cerimônia interna ou pública do Candomblé, Exú é sempre o primeiro a ser homenageado.
De manhã, consuma-se o sacrifício; os preparativos culinários e a oferenda às divindades ocupam o restante do dia; a cerimónia pública propriamente dita começa ao fim da tarde, quando o sol se põe e prolonga-se por muito tempo, noite adentro.
Qualquer cerimónia tem início, obrigatoriamente, com o Padê de Exú. Costuma-se dizer que essa cerimónia é para despachar Exú, mas isso não é correcto, pois com esta cerimónia apenas colocamos Exú como guardião e mensageiro, para avisar os Orixás de que estaremos precisando das suas presenças no Aiyé (Terra).
Exú é, na verdade, o Mercúrio africano, o intermediário necessário entre o homem e o sobrenatural, o intérprete que conhece ao mesmo tempo a língua dos mortais e a dos Orixás. É pois ele o encarregado – e o Ipadé não tem outra finalidade – de levar aos Orixás o chamamento dos seus filhos.
O Ipadé é celebrado por duas das filhas-de-santo mais antigas da casa, a Dagã e a Sidagã, ao som de cânticos em língua Iorubá, cantados sob a direcção da Iyà Têbêxê e sob o controle do Babalorixá ou Yalorixá, diante de uma quartinha com água e um prato de barro contendo o alimento de Exú, e um outro recipiente com o alimento favorito dos ancestrais.
Embora o Ipadé se dirija antes de tudo a Exú, comporta também obrigatoriamente uma cantiga aos mortos (Essá) ou para os antepassados do Candomblé, alguns de entre eles são mesmo designados pelos seus títulos sacerdotais.
A quartinha, o recipiente e o prato serão levados para fora do barracão onde se desenrolarão as restantes cerimónias.
A festa propriamente dita pode então começar.
Obs.: Não confundir Padê (que significa a comida de Exú) com Ipadé (que significa Encontro) que é a cerimónia propriamente dita.



Foto.: Pintura em tela. Ilè bará esú do Asé Babá Omi